A XV Bienal Internacional do Livro do Ceará espalhou, por entre arenas, praças, salas e diversos ambientes do evento, um pouco da rica trajetória de vida de 15 mulheres que marcaram a história e a cultura cearenses – o mesmo número de edições do evento. A forma de registrar essa homenagem se deu de duas maneiras. Uma delas foi o Espaço de Memória, montado na área da feira de livros da Bienal, no Pavilhão Térreo do Centro de Eventos, com uma exposição na qual os visitantes se depararam com fotografias e um breve resumo da jornada dessas quinze mulheres, lembradas e eternizadas por seus feitos e importância.
Essas mulheres e suas histórias inspiraram também a Bienal a colocar seus nomes em espaços do Centro de Eventos para receber as diversas atividades da programação. Esta foi mais uma forma de tributo à memória delas. Como, por exemplo, a Praça Emília Freitas, local da realização de mais de 260 lançamentos de obras de escritores de todos os gêneros, e cujo nome destaca a escritora cearense considerada a pioneira na literatura fantástica brasileira.
Natércia Campos também foi uma das homenageadas. Escritora vencedora do prêmio Oswald de Andrade, Natércia é uma referência nacional na literatura e emprestou seu nome a um espaço localizado na área da feira de livro e palco de debates e conversas com escritores. Henriqueta Galeno também é representada com um espaço nomeado em sua homenagem, além de integrar o painel do Espaço de Memória. Já a escritora, professora poetisa e advogada Henriqueta Galeno, fundadora da Comissão Cearense de Folclore e grande relevância para na formação e valorização da cultura popular, teve seu nome em destaque na arena onde foram realizadas as solenidades de abertura e encerramento, além de diversas apresentações, saraus, conversas com escritores e lançamentos.
As salas dos Mezaninos 1 e 2 do Centro de Eventos, onde foram realizadas as programações infantil e infanto-juvenil e diversos debates e lançamentos de livros, também traziam com destaque os nomes das homenageadas.
Sobre a motivação para criação do Espaço Memória e das homenagens, Maura Isidório, a coordenadora geral da XV Bienal Internacional do Livro comenta: “Essa foi uma forma carinhosa e respeitosa que criamos para mostrar o quanto as mulheres contribuem para a nossa sociedade, para a construção de todos os tempos – e o quanto elas são apagadas e invisibilizadas. Pode-se ver isso nas figuras dessas quinze mulheres brilhantes, que se sobressaíram com suas virtudes e histórias de vida acima de tudo. Suas contribuições são inúmeras e ultrapassam os limites da literatura e cultura.”
A criação de um Espaço da Memória dentro de um evento literário e cultural como a Bienal é mais do que um gesto simbólico – é uma maneira de reafirmar que a literatura também é construção de identidade, justiça e representatividade. Além de eternizar essas figuras femininas tão importantes para a literatura e cultura cearense, o Espaço de Memória serviu também como ponte entre gerações, convidando o público a conhecer e valorizar as mulheres homenageadas e atuando como um respiro necessário para os visitantes. É um lembrete de que resistir, ensinar, escrever e publicar são atos que sustentam o presente – e honrar quem abriu caminhos é também uma forma de continuar traçando futuro.
Sobre reparação histórica, Maura Isidório afirmou: “O que a gente tenta não é exatamente reparar, porque o passado não muda. O que fazemos é trabalhar o presente para que mulheres sejam cada vez mais conhecidas – que suas lutas inspirem novas lutas”.
Quem são as 15 mulheres homenageadas na Bienal?
- Adísia Sá: jornalista, professora, escritora cearense referência em ética na comunicação e pioneira na imprensa nordestina.
- Alba Valdez (Maria Rodrigues Peixe): fundadora da Liga Feminista Cearense, foi poeta e pioneira na defesa dos direitos das mulheres.
- Ângela Lago: ilustradora e escritora infantil, conhecida por reinventar a leitura visual nas obras para os mais jovens.
- Beatriz Nascimento: intelectual e ativista do movimento negro, pesquisou quilombos e deu palco à luta de mulheres negras no Brasil.
- Carolina Maria de Jesus: catadora de papel e escritora, emocionou o mundo com suas obras em que as experiências da pobreza são o cenário principal.
- Emília Freitas: primeira autora brasileira de literatura fantástica, também foi abolicionista no Ceará.
- Francisca Clotilde: abolicionista e escritora cearense, autora de romances e peças de crítica social.
- Heloneida Studart: jornalista, feminista e deputada federal, usou a soma da literatura e política para lutar e defender os direitos das mulheres.
- Henriqueta Galeno: educadora, jornalista e gestora cultural, fundadora da Comissão Cearense de Folclore.
- Júlia Lopes de Almeida: romancista do século XIX e uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, vetada por ser mulher.
- Maria Firmina dos Reis: pioneira na literatura afro-brasileira, publicou o primeiro romance abolicionista do país escrito por uma mulher negra.
- Natércia Campos: escritora cearense premiada, com obras que exploram o olhar feminino sobre o cotidiano.
- Pagu (Patrícia Galvão): ícone do modernismo e da luta política, foi presa por suas ideias e escreveu com ousadia e vanguarda.
- Ruth Guimarães: Folclorista, tradutora e romancista, trouxe lendas e mitos do Brasil para a literatura.
- Telma Tremembé: Educadora e escritora indígena lutou pela valorização da cultura e oralidade do povo Tremembé.
XV Bienal Internacional do Livro do Ceará
Com o tema “Das fogueiras ao fogo das palavras — Mulheres, resistência e literatura”, a XV Bienal Internacional do Livro do Ceará tem como foco principal debater a presença de mulheres na linguagem artística. O evento conta com curadoria de quatro importantes nomes: Sarah Diva Ipiranga, Amara Moira, nina rizzi e Trudruá Dorrico.
Gratuita, a programação acontece dos dias 4 a 13 de abril, no Centro de Eventos do Ceará, com atividades como palestras e shows, além da famosa feira do livro. Para saber o que está previsto para cada dia, basta acessar o site oficial (bienaldolivro.culura.ce.gov.br) ou o Instagram (@bienaldolivroce).
A Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.
Serviço:
Bienal Internacional do Livro do Ceará
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público