Encampar a luta contra o machismo e o racismo na ciência não é algo simples, nem fácil, nem pacífico. Tampouco é algo que deva ser feito sem leveza e um largo sorriso no rosto. Para a antropóloga Vera Rodrigues, é preciso olhar nos olhos de outra mulher negra e poder dizer o quanto a admira: “nossos afetos nos fortalecem, nosso sorriso é sempre inegociável”, cravou a pesquisadora, sob aplausos dos admiradores.
Professora do Instituto de Humanidades da Unilab – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira, Vera Rodrigues participou ao lado da colega de instituição Denise da Costa da roda de conversa “Duas Vozes, Uma História – Zora Hurston e Lélia Gonzalez sobre a Experiência Negra”. O encontro celebra a obra de duas grandes escritoras negras, referências não apenas no campo acadêmico.
“Zora fez parte dessa redescoberta de autores negros. Ela teve sua obra sabotada. A gente está falando coisas há muito tempo e o processo é sempre de anulação dessas vozes”, lamenta Denise, sobre um processo de apagamento destas autoras, que ainda é atual. Antropóloga e folclorista norte-americana, Zora Hurston foi não apenas contemporânea, como orientanda de Franz Boas, considerado o pai da antropologia norte-americana. Apesar da consistência de sua produção, a autora foi praticamente esquecida em fins da década de 1940, sendo redescoberta décadas depois e hoje é referência no campo da antropologia.
Também celebrada no encontro, Lélia Gonzalez é referência nos estudos sobre racismo no Brasil, considerada uma das grandes intérpretes da realidade brasileira. Cultivar autoras negras e celebrar suas trajetórias, defende Denise, é uma maneira de fortalecer uma voz e pensamento de autoras negras que, em certa medida, ecoam de maneira coletiva. “A gente escreve nossas trajetórias acadêmicas como mulheres negras e com as nossas referências negras. Quem são as nossas referências negras na literatura, na academia? O que mudaria se tivéssemos mais referências?”, questiona Denise.
A Bienal Internacional do Livro do estado do Ceará sempre pautou-se pela diversidade e compromisso com a democracia. Com o tema “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”, o evento celebra a literatura como ferramenta de emancipação e protagonismo feminino. Pela primeira vez, a curadoria está composta exclusivamente por mulheres: Sarah Diva Ipiranga, nina rizzi, Amara Moira e Trudruá Dorrico, sob a coordenação geral de Maura Isidório.
O evento é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.
Serviço:
Bienal Internacional do Livro do Ceará
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br