A XV Bienal Internacional do Livro do Ceará tem como tema “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”, uma celebração do papel do livro na resistência feminina às diversas forças que buscam impedir o progresso das mulheres. É nessa ótica que se construiu a mesa “Leitura que muda o mundo e a vida das mulheres”, realizada nesta quarta-feira, dia 9, às 14h, na Arena Henriqueta Galeno, no Centro de Eventos do Ceará.
A mesa, conduzida por Suzete Nunes, Superintendente da Biblioteca Pública do Estado do Ceará, trouxe como convidadas três mulheres com uma vida pública marcada pela resistência. A deputada estadual Larissa Gaspar, 2ª Vice Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (ALECE) e Presidenta da Frente Parlamentar de Combate à Violência Política de Gênero; a deputada estadual Lia Gomes, Secretária de Mulheres do Estado do Ceará e Presidenta da Comissão Cearense de Direitos da Mulher; e a vereadora Profa. Adriana Almeida, Procuradora Especial da Mulher e Presidenta da Comissão de Educação da Câmara Municipal de Fortaleza. As três parlamentares foram convidadas a trazer e comentar um livro escrito por uma mulher que tivesse conexão com suas ocupações enquanto agentes públicas.
Lia trouxe o livro “Mulheres, dominação e política: a cota eleitoral de gênero nas eleições municipais do Brasil”, de Deborah Cavalcante de Oliveira Salomão Guarines, juíza e diretora da Escola Judiciária Eleitoral Cearense. O livro avalia a importância e os resultados da implantação das cotas eleitorais de gênero a partir de 1995, por meio de projeto da então deputada federal Marta Suplicy. “A democracia no Brasil é distorcida. Nós [mulheres] somos 53% do eleitorado, mas estamos subrepresentadas por cerca de 17% de mulheres na política, apenas. Embora, no meu modo de ver, o crescimento tenha sido muito pequeno, é inegável que houve um crescimento da participação das mulheres a partir dessa política afirmativa.” Lia mencionou como o livro cobre tentativas de burlar a lei, diminuir a sua efetividade, tentativas que permanecem até hoje em diversas versões, como violações da reserva do fundo partidário para candidatas mulheres.
Adriana citou o livro “Querido Estudante Negro”, de Bárbara Carines Soares Pinheiro, escritora, Doutora em Química e professora efetiva da Universidade Federal da Bahia. O livro acompanha a trajetória educacional da autora da infância até a idade adulta, extremamente atravessada pelo racismo estrutural. Adriana lembrou que a política de cotas, tão necessária para a mulher na política, se torna duplamente necessária para a mulher negra, impactada pela violência social por ângulos de gênero e raça, e enfatiza o aspecto de reparação histórica das cotas. A vereadora identificou a existência de uma narrativa do poder transformador da educação que, quando mal contada, pode ser demasiado romântica e imprecisa. “É importante para nós o estudo, mas também é importante o engajamento político e social, e a ajuda de outros estudantes, de colegas, de outras pessoas negras. O estudo é uma vitória coletiva.”
Larissa abordou o livro “Sempre foi sobre nós: relatos da violência política de gênero no Brasil”, livro organizado por Manuela D’Ávila, ativista feminista, jornalista, escritora e política, ex-deputada federal e candidata a Vice-Presidência da República em 2018. O livro traz relatos de diversas mulheres com importantes atuações na política brasileira sobre as violências que sofreram durante campanhas eleitorais e exercício de seus mandatos, como Talíria Petrone, Sônia Guajajara, Erika Hilton, Marina Silva e Dilma Rousseff. Larissa reenfatizou a distorção da democracia brasileira, um sistema de governo que deve representar o povo, mas que têm tão poucas mulheres e pessoas negras nos seus cargos. A parlamentar destaca o livro como “a mais importante ferramenta que temos” para mudar esse cenário. “A leitura é fundamental para que nós consigamos captar os conteúdos, entender o mundo. E esse é o primeiro passo para transformá-lo.”
A Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.
Serviço:
Bienal Internacional do Livro do Ceará
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br