Foto: Jeny Sousa
Foto: Jeny Sousa

Sertãopunk e afrofuturismo destacam protagonismo negro e nordestino na literatura

Importantes movimentos artísticos, o sertãopunk e afrofuturismo ultrapassam barreiras e apresentam uma ficção-científica que tem como foco o protagonismo de personagens negros ou da região Nodeste

Sertãopunk e afrofuturismo… o que são? O que fazem? Onde encontrar? Ou melhor, já tinha ouvido falar sobre esses dois movimentos artísticos? Aqueles que não sabiam, mas estavam no bate-papo “Encontros entre o sertãopunk e o afrofuturismo”, realizado no eixo Literatura e Juventudes da XV Bienal do Livro do Ceará, mergulharam nas duas correntes.

O encontro, ocorrido nesta quinta-feira, 10, às 11 horas, trouxe importantes escritores dos dois movimentos: G.G. Diniz (uma das fundadoras do sertãopunk), Oziel Herbert, Aline Nobre e Israel Neto. A conversa entre os quatro teve mediação da jornalista cultural Eduarda Porfírio.

A primeira corrente que é necessária entender é o afrofuturismo, que nasce no século XX e está presente em diversas linguagens artísticas, trazendo uma perspectiva diferente para a ficção científica: o protagonismo negro — além da ancestralidade que também se faz presente nas obras. Um importante nome do movimento na literatura é a norte-americana Octavia Butler (1947-2006).

Em outras palavras, o afrofuturismo vai trazer uma história na qual se cria uma narrativa e futuro para populações negras, mas ainda bebendo da ancestralidade desses povos. “Um dos pilares do afrofuturismo é ser escrito por pessoas negras e protagonizado por pessoas negras”, enfatizou Israel Neto durante o bate-papo.

“Uma pessoa branca não pode escrever afrofuturismo, ela pode escrever ficção-científica ou fantasia aonde tem personagens negros, tem identidade, tem elementos da cultura africana ou afrobrasileira. Mas o afrofuturismo é particular nosso”, completou o autor de “Os planos secretos do regime” (2020).

E o sertãopunk? Também é um movimento de narrativas futuristas, mas o foco central dessa vez é o Nordeste brasileiro. Isso significa que as obras exploram essa região, comumente associado a seca e o cangaço em histórias, como local para aventuras tecnoculturais, geralmente vistos em grandes produções hollywoodianas. Os protagonistas? Nordestinos.

Nessa corrente serão exploradas questões climáticas, de crença, desenvolvimento, entre outros. “O sertãopunk é um movimento de arte futurista nordestina em que o Nordeste é um polo de desenvolvimento cultural, social e tecnológico”, simplificou a cearense G.G. Diniz, uma das criadoras do movimento — que o desenvolveu ao lado dos baianos Alec Silva e Alan de Sá.

Oziel Herbert, outro convidado da mesa, opinou sobre a relação entre os dois movimentos: “Uma das formas que gosto de pensar é que esses dois movimentos propõem um mundo em que nossos corpos não precisam pedir licença para existir. Estamos inventando um mundo e colocando ele sem as regras que hoje nos impedem de viver”.

Aline Nobre aprofundou o debate, apontando que muitas vezes quando um escritor nordestino escreve para alcançar pessoas de outras regiões, é comum que haja uma camuflagem na cultura e linguajar. “Quando comecei a escrever nessa perspectiva do sertãopunk, tive que valorizar minha cultura, o meu espaço e o meu linguajar”.

O afrofuturismo é um dos subeixos de Literatura e Juventudes, como explica Kieza Fran, uma das coordenadoras: “É uma tentativa de demonstrar que sim, aqui no Ceará e em outros locais, estamos demarcando essas narrativas identitárias e criando as nossas utopias e histórias nesses lugares”, defende.

Eixo Literatura e Juventudes

O eixo Literatura e Juventudes segue com programações que trazem temáticas similares. Na sexta-feira, 11 de abril, o bate-papo “Territórios especulativos: Mulheres escrevem a ficção especulativa” traz as autoras Dayhara Martins, Mylena Queiroz e G.G. Diniz, com mediação de Kinaya Black. O encontro acontece às 9 horas na sala Pagu, 2º Mezanino.

No mesmo local, mas no domingo, 13, outro bate-papo está previsto: “Sertão ficção: fantasia e futuros”, com os autores Zé Wellington, Shiko e Izma Xavier, e mediação de Ed Araújo. A atividade acontece a partir das 14 horas.

Kinaya Black, também coordenadora do espaço Literatura e Juventudes, explica que trazer temáticas como estas para o eixo é uma ideia de mostrar aos jovens que há autores no Ceará que fazem ficção especulativa (narrativas que especulam sobre passado, presente ou futuro em variados gêneros), fantasia, terror ou ficção-científica, mas dentro de uma realidade próxima a deles.

“Não precisamos estar lendo coisas que não nos representam só porque é o que está bombando no mercado editorial, digamos. Tivemos uma mesa só sobre literatura de fantasia cearense e foi muito legal. Foi uma mesa cheia e a galera saiu daqui falando: ‘Nossa, não sabia que existia fantasia no Ceará, que se passava no Ceará ou se baseava na cultura cearense’.”, sustenta, demonstrando a importância da temática no evento.

XV Bienal Internacional do Livro do Ceará

A XV Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.

Serviço

Bienal Internacional do Livro do Ceará
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br

Compartilhe

Barra de acessibilidade