Foto: Beto Skeff
Foto: Beto Skeff

Bate-papo com escritoras aborda acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência na literatura

Com foco em vivências e opiniões, as escritoras Dani Cardoso e Marluce Barros conversaram com Virgínia Oliveira sobre a acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiências na literatura

Durante o bate-papo “Sem Fronteiras: Escrita, Acessibilidade e Inclusão na Literatura”, a escritora Dani Cardoso trouxe um importante desabafo e desejo: o de ser reconhecida pela sua arte, não apenas deficiência.

“Quero levantar a bandeira da inclusão, mas não é só isso, não somos apenas nossa deficiência. A melhor contribuição seria nos tratarem de forma equitativa, ou seja, com igualdade, mas levando em conta todas as nossas limitações”, arrematou, referindo-se a parcerias com editoras. 

O momento ocorreu na manhã desta segunda-feira, 9 de abril, no eixo Literatura e Juventudes da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará. As escritoras Dani Cardoso e Marluce Barros foram as convidadas para o bate-papo, mediadas pela também escritora Virgínia Oliveira, que abordou sobre os processos e vivências das autoras na literatura. 

Antes de direcionar as perguntas para as participantes, Virgínia trouxe uma reflexão pessoal sobre a acessibilidade do livro como um todo. “Quando falo acessibilidade, não me refiro diretamente a pessoas com deficiência, mas as inacessibilidades financeiras. Consumir literatura é muito caro e, muitas vezes, esse acesso vai estar dentro das escolas e das bibliotecas públicas”, apontou e completou: “É se pensar em como instituições podem facilitar esses acessos à literatura e o quão importante é ter escritores e escritoras com deficiência nesses locais”. 

Durante a conversa, a plateia, formada pelo público geral e turmas de estudantes que visitavam o evento, conheceu detalhes sobre as autoras e como elas vivenciam a literatura, além das opiniões sobre o acesso desse mercado para as pessoas portadoras de alguma deficiência. 

A carismática Dani Cardoso foi uma delas. Escritora do livro “Diário de uma jovem cadeirante”, a cearense é multiartista, sendo também bailarina e atriz. Sua obra é quase um retrato autobiográfico, já que se inspira em situações vividas ao longo da experiência como estudante universitária. Dani tem paralisia cerebral e é cadeirante, o que colocou alguns desafios em sua trajeória.

“É libertador colocar no papel ou, no meu caso, na tela do computador, tudo o que sinto e penso. Gosto de falar sobre auto aceitação, superação, amizade e amor. A vida me inspira. Meu livro está cheio de histórias que vivi na faculdade, mas sempre damos uma pincelada de imaginação para evitar problemas com algumas pessoas”, diz. 

Segundo Dani, essa história do livro era algo que gostaria de ter lido na adolescência, mas que não teve a oportunidade, por isso teve que “escrevê-la para que outras pessoas com ou sem deficiência se sentissem representadas”. 

Marluce Barros foi introduzida em seguida. Escritora e jornalista, trabalhou no Diário do Nordeste como editora de informática, atuando na promoção de ações para o fortalecimento do letramento digital no trabalho e fora dele. 

Em sua fala, disse que a trajetória de “superação do AVC hemorrágico dividiu a sua vida em duas etapas”. “Mergulhei no livro graças ao suporte que tive da minha recuperação. Antes, não falava e não andava. Depois de 3 anos, me recuperei e voltei para a teia da vida”, relatou.

As convidadas também refletiram sobre a solidão da pessoa com deficiência e como ela pode afetar em seu trabalho, no qual a jornalista declarou ter dedicado a vida ao trabalho e que, depois do AVC, renunciou a sua vida sexual. Atualmente, se dedica exclusivamente à militância de pessoas com deficiência, se juntando a organizações que promoviam ações para pessoas cadeirantes.

Ao falar sobre os efeitos do capacitismo na literatura, Dani revelou não ter encontrado em Fortaleza uma editora para publicar sua obra —- um desistiu do processo. “Os motivos podem ser diversos, inclusive por ser difícil trabalhar com inclusão. É fácil falar, [porém] praticar é outra coisa”, pontuou. 

O momento foi encerrado com cada uma lendo um trecho dos respectivos livros. A obra de Marluce Barros foi lançada na Bienal do Livro do Ceará no dia 8 de abril, terça-feira, na Praça Emília Freitas. Já o de Dani Cardoso pode ser encontrado no stand da editora Imeph (stand 28/29)

XV Bienal Internacional do Livro do Ceará

Com o tema “Das fogueiras ao fogo das palavras — Mulheres, resistência e literatura”, a XV Bienal Internacional do Livro do Ceará tem como foco principal debater a presença de mulheres na linguagem artística. O evento conta com curadoria de quatro importantes nomes: Sarah Diva Ipiranga, Amara Moira, nina rizzi e Trudruá Dorrico. 

Gratuita, a programação acontece dos dias 4 a 13 de abril, no Centro de Eventos do Ceará, com atividades como palestras e shows, além da famosa feira do livro. Para saber o que está previsto para cada dia, basta acessar o site oficial (bienaldolivro.culura.ce.gov.br) ou o Instagram (@bienaldolivroce). 

Serviço

Bienal Internacional do Livro do Ceará 
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br

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