A XV Bienal Internacional do Livro do Ceará traz o tema “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”, celebrando o poder feminino de manter viva a chama da literatura, mesmo sob condições muito desfavoráveis. Assim, poucas pessoas encarnam tão bem o espírito desta Bienal quanto Rita de Cássia e Lamec Pereira, mediadoras de leitura de bibliotecas comunitárias e personagens da mesa “A fé tá na mulher: lições das mediadoras de bibliotecas de iniciativa popular”, realizada esta terça, dia 8, às 16h.
Rita de Cássia, coordenadora da biblioteca comunitária Livro Livre Curió, tem a mediação de leitura como uma tradição familiar. “A minha mãe, sem querer, era uma mediadora de leitura. A minha casa era um ponto de cultura”. Depois do falecimento de sua mãe, Rita lidou com o quadro de depressão. A biblioteca surgiu como ideia de seu filho, Talles Azigon, em grande parte para ajudar a mãe.
Lamec Pereira, mediadora de leitura da Biblioteca Viva, projeto comunitário localizado no bairro Barroso, também encontrou a biblioteca em momento muito delicado. “Eu tinha perdido o emprego, tinha acabado de descobrir que estava numa depressão profunda. Meus filhos foram pra biblioteca, e quando chegaram, eles chegaram animados, com um brilho diferente, e começaram a frequentar. E assim foi quase um ano. E um ano depois, eu conheci o Raphael (Montag), um dos “cabeças” da Biblioteca Viva. E ele disse “a gente precisava tanto conversar, Lamec. Seus filhos falam tanto de você”. E a gente conversou, e eu me abri, porque nele eu vi um amigo.” Pouco depois, Lamec começou a frequentar a biblioteca, e em poucos meses, a ser mediadora de leitura.
E esse espaço acolhedor que foi propiciado para elas é o que elas desejam construir para os outros. Lamec é mãe solo de quatro filhos, sem apoio familiar, e entende que a biblioteca pode ser um lugar de refúgio, de “falar coisas que não falam em casa”. Sente uma facilidade particular com os adolescentes, graças a uma capacidade de se colocar no lugar deles, entender seus pontos de vista.
Rita destacou a criação de um grupo de leitura para as mulheres do Curió, apontando que sentiu a necessidade depois da pandemia. “As mulheres têm uma necessidade de ter outras lá, para usarem a biblioteca, para se sentirem parte”. Mulheres que não são alfabetizadas também fazem parte do grupo, com Rita enfatizando que elas têm sua própria voz e história, e devem ser ouvidas igualmente.
E é esse apoio, que as bibliotecas têm dado aos seus visitantes, que enche as mediadoras de esperança. Convidadas por Jéssica Lourença, mediadora da mesa, a pensar sobre o futuro próximo de seus projetos, ambas esperam a formação de mais mediadores e mediadoras, justamente entre os jovens que hoje visitam as bibliotecas. Jovens não tão diferentes de Lamec, que teve a perspectiva de sua vida mudada pela Biblioteca Viva, e hoje planeja começar o curso de Letras em breve. Ela é um exemplo do sonho que Rita de Cássia descreve: “que os jovens tenham cada vez mais possibilidades, que eles conquistem seus espaços. E que as bibliotecas sonhem juntas com eles”.
A Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.
Serviço:
Bienal Internacional do Livro do Ceará
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br