Foto: Te Pinheiro
Foto: Te Pinheiro

Rodas de Conversa EdUECE “Mulheres, Ciência e Pesquisa” trazem o livro acadêmico para o palco da Bienal

A extensa programação da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará traz destaque para todos os tipos de literatura, sejam eles os hits que movimentam as prateleiras da Feira do Livro, a tradicional poesia popular que ocupa a Praça do Cordel ou os diversos lançamentos independentes que enriquecem espaços como a Praça Emília Freitas. Com tantas opções, um observador desatento pode passar batido por um evento como as Rodas de Conversa EdUECE “Mulheres, Ciência, e Pesquisa”, realizado na tarde desta quinta-feira, dia 10, entre as 14h e 17h. Mas seria um erro lamentável, pois as três rodas de conversa e nove lançamentos de livros acadêmicos pela Editora da Universidade Estadual do Ceará trouxeram um vital momento de conexão com o tema da XV Bienal, “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”.

A primeira reuniu lançamentos com foco em “Cuidado e Trabalho”. Mônica Cavaignac, professora vinculada ao curso de Direito da UECE e Pró-Reitora de Políticas Estudantis, trouxe seu livro “Relações de Trabalho e Relações no Trabalho em Call Centers na década de 2000”, com base em sua tese de doutorado. “Nesse livro vem toda uma história das privatizações do Brasil, no contexto do neoliberalismo, da crise estrutural do capital, da mundialização do capital. No Brasil essa tendência neoliberal veio muito forte nos anos 90, e aí nós tivemos a privatização do sistema Telebrás, e com a privatização teve toda uma onda de precarização do trabalho, principalmente a partir do processo de terceirização”. A indústria do call center tem uma presença majoritária de mulheres compondo sua força de trabalho e as histórias sobre as condições de trabalho insalubres destacadas no livro de Mônica, pois a autora trabalhou em uma dessas empresas na época.

Também fizeram parte da mesa João Tadeu de Andrade, um dos organizadores de “Cuidado: dimensões, atores e realizações em perspectiva socioantropológica”, e Estênio Azevedo, um dos organizadores de “Serviço Social, Trabalho e Questão Social: 10 Anos do MASS/UECE”. Os dois autores discutiram as experiências de profissionais da indústria do cuidado, como massoterapeutas e parteiras, bem como o programa de Mestrado Acadêmico em Serviço Social da UECE. Tanto a indústria do cuidado quanto o serviço social são ocupações com grande presença feminina, e desvalorizadas social e economicamente por causa disso, fazendo seu estudo mais aprofundado necessário para a contestação de narrativas.

A mesa seguinte reuniu trabalhos sobre “Cultura e Sociedade”. Os trabalhos de Ana Cristina Moraes, organizadora de “Cultura(s), Educação e Arte nos Caminhos da (Auto)Formação Docente”, e Rodrigo Marques, organizador de “Nordeste em Prosa e Cordel”, trouxeram trabalhos que questionam as tradições rígidas do texto acadêmico ao trazer uma linguagem que flerta com o lírico. O livro de Ana Cristina traz diversas imagens e uma escrita inspirada na vivência de suas autoras. O trabalho de Rodrigo, feito em parceria com a Universidade Estadual de Campinas, se divide entre texto relativamente introdutório sobre a região nordestina e poemas de cordel que liricamente contam histórias como as de Dragão do Mar e José Luís Napoleão. “É interessante a poesia como fonte de conhecimento, ao lado do contexto de divulgação científica. Fica bem interessante essa parceria entre a poesia e a prosa, porque a poesia se contamina um pouco, fica uma prosa mais solta. A mesa também contou com Alexandre Barbalho, organizador de “Formação Artística e Políticas Públicas”, trabalho fruto de um seminário da Secretaria da Cultura (Secult) que teve que ser realizado de forma virtual durante a pandemia. O livro foi o primeiro do selo Arte, Cultura e Conhecimento, realizado por meio de parceria da Secult com a EdUece.

A última mesa do evento tinha obras com foco em “Educação e Escola”. A mesa contou com a presença de Lia Machado Fiuz Fialho, Kerginaldo Luiz de Freitas e Sandra Maria Gadelha de Carvalho. Lia é uma das organizadoras de “Mulheres e Educação no Século XIX: Artefatos e Sensibilidades”, livro que descreve diversos artefatos que se faziam presente ao cotidiano feminino do século XIX, assim trazendo maior conhecimento a uma parte de nossa história tradicionalmente inviabilizada. O livro tem o formato de 70 verbetes, cada um deles escrito por pesquisadores, docentes e pós-graduandos (quase todas mulheres) com produção acadêmica na área de História da Educação.

Kerginaldo Freitas é um dos organizadores de “Pesquisas em Educação e Ensino”, obra que reúne impressionantes cinquenta trabalhos de mestrado e doutorado por professores da Rede Municipal de Educação em Fortaleza. Sandra Gadelha é uma das organizadoras de “Educação Popular e Educação do Campo”, trabalho sobre uma reimaginação da educação da zona rural, distante das especificidades da vida urbana, mas também indo na contramão dos projetos do agronegócio industrial em favor de se ligar aos anseios dos movimentos sociais. Mas uma coisa une as histórias dos professores da educação básica da capital e da Escola Família Agrícola Jaguaribana Zé Maria do Tomé, na zona rural de Limoeiro do Norte: a vontade inabalável de continuar sua educação e de devolvê-la para a comunidade. Vontade essa que também pode ser vista nos professores e pesquisadores responsáveis pelos nove trabalhos lançados pela EdUECE numa tarde de XV Bienal.

A Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.

Serviço:

Bienal Internacional do Livro do Ceará
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br

Compartilhe

Barra de acessibilidade