A XV Bienal Internacional do Livro do Ceará traz como tema “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”, colocando esta edição do maior evento cultural do estado em dedicação às mulheres que fazem da cultura uma forma de resistência. É nesse contexto que a Bienal recebeu neste sábado (12) a terceira edição do Sarau das Mulheres, produzido e organizado por Luana Vieira de Carvalho, Maruska de Sousa Ribeiro e Sarah Costa Jorge de Sales.
Luana explica que a ideia do Sarau começou a partir do Sarau Soy Libre Como El Viento, que foi realizado em janeiro de 2024, em homenagem a Julieta Hernández, artista, palhaça e ciclista, que foi vítima de feminicídio no Amazonas, em dezembro de 2023. Luana e Maruska produziram juntas o Soy Libre Como El Viento, e daí surgiu a ideia de fazer um Sarau permanente, que elas chamaram de Sarau das Mulheres. Depois da primeira edição, realizada na Praça da Gentilândia, em Fortaleza, em abril de 2024, Sarah, que já era colega de Luana na produção de eventos (ambas são formandas da Escola Comunitária de Biodança do Ceará), se juntou ao time de produção.
A proposta do evento, nas palavras de Luana, é “ser um sarau de expressividades artísticas femininas diversas”. As produtoras já representam bem essa diversidade: além de colegas na Biodança, Luana e Sarah também são palhaças, e Maruska e Sarah são formadas em Teatro pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Luana também é escritora, e Maruska tem formação em audiovisual pelo Centro Cultural Bom Jardim, totalizando cinco diferentes mídias artísticas entre as três.
Tudo isso foi contado durante o Sarau, que foi ainda além, trazendo uma grande variedade de formas de expressão, com danças, declamações de poemas, performances musicais de gêneros distintos, e até mesmo um momento de palhaçaria. Obras calmas e furiosas, comedidas e crassas, contidas e exuberantes, todas unidas por um único aspecto central: a perspectiva feminina. Como explica Sarah, “o Sarau é justamente esse lugar que a gente proporciona para essas mulheres, para que elas possam mostrar a sua arte de forma livre. Mostrar o que elas estão sentido, o que elas estão falando, o que está acontecendo na vida delas, e expressar isso através da arte. A ideia do Sarau é criar esse espaço de liberdade e voz para essas artistas de Fortaleza.”
E a proposta chegou bem mais longe do que os limites de Fortaleza. Durante o período de “microfone aberto” do Sarau, alguns minutos separados para que participantes pudessem participar espontaneamente, houve um momento musical, com a execução de duas músicas, cantadas e tocadas com ukulele por Priscila, vocalista da banda PriCler e as Panteronas, artista de João Pessoa (PB), em visita a Fortaleza, cidade natal do seu marido.
O Sarau das Mulheres é um espaço marcado não apenas pela arte feminina, mas pela arte feminina produzida em comunidade. Isso esteve marcado em apresentações como a da jovem palhaça Bifinha, que aparentava não ter mais de 13 anos, cujas constantes interações com a plateia deixavam os ouvintes ansiosos pelo próximo capítulo na saga de Gabriel, um menino carmicamente punido de formas vez mais grotescas por sua crueldade de animais.
A comunidade também esteve marcada na performance “Habitat”, de Tita Tessá, o momento mais contido da tarde, com as portas da sala sendo fechadas para estabelecer o silêncio na sala. Tita inicialmente afastava o microfone do palco, falando em voz baixa sobre uma resistência, a importância de não se calar e não ser anestesiada. A cantora resgatou o microfone depois da entrada no palco do grupo de instrumentistas Quartinha de Coco, com instrumentos de percussão se juntando à voz e construindo uma música. Comentando a performance depois, Tita falou que esse habitat foi todo construído aqui. “Gratidão às meninas da Quartinha. Eu venho buscando elementos orgânicos, paisagens sonoras, e esse foi um campo totalmente improvisado diante, claramente, da minha vulnerabilidade emocional que tenho hoje. E é muito lindo também poder habitar esse lugar de emoção e me expressar.” Essa capacidade de se expressar é o que move a criação humana desde as fogueiras, tão bem representadas e atualizadas na Bienal pelo Sarau das Mulheres.
XV Bienal Internacional do Livro do Ceará
A Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.
Serviço:
Bienal Internacional do Livro do Ceará
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br