O nome da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, e a expressiva Feira do Livro que ocupa a maioria do Pavilhão Oeste do Centro de Eventos, podem levar visitantes pouco acostumados com o evento a pensar que ele tem como único foco o livro, ou talvez a literatura. Mas esse entendimento não é bem correto. Embora seja bastante centrada no livro, a Bienal Internacional é o maior evento de cultura do estado, e faz jus a esse status como um palco para inúmeras manifestações, debates e bate-papos culturais. Entre esses bate-papos esteve o realizado nesta sexta-feira, dia 11, com a Secretária de Cultura de Fortaleza, Helena Barbosa.
Helena é nativa do Trairi, cidade do Norte do Ceará, e veio morar em Fortaleza aos 6 anos de idade, no bairro Castelo Encantado. “A minha relação com a universidade, com qualquer forma de formação institucional, era uma relação muito distante, porque eu nunca tinha visto ninguém do meu colégio, do meu bairro, entrar na universidade. Então como eu ia entrar?”
A jornada da secretária pelo campo da cultura começou aos 14 anos, por meio de um cartaz encontrado por acaso, em que uma ONG anunciava um curso de produção de vídeo que encaminharia os participantes para um emprego depois da conclusão. “Eu não sabia o que era produção de vídeo aos 14 anos. Eu achava que eu ia montar VHS, porque produção pra mim era uma palavra operacional, e vídeo era VHS. Eu passei um mês esperando o VHS aparecer e não aparecia, eu tinha umas aulas de filosofia, de antropologia, e pensava ‘diabo é isso, cadê o vídeo?’” Desde então, são vinte e dois anos de experiência no campo, construindo um leque de experiências que informa profundamente seu modelo de gestão pública. “A minha gestão cultural veio da rua, se legitima na rua”.
E é pensando na rua que Helena pensa políticas públicas para a cidade de Fortaleza. “Para reivindicar acesso a algo, eu preciso saber que aquilo existe. Eu não vou falar ‘ah, eu quero ir pra Bienal’ sem saber sobre a Bienal. Então a gente tem o desafio de apresentar a pasta de Cultura pra cidade de Fortaleza. Dizer ‘tem um negócio aqui chamado Secretaria de Cultura, ela é formada por isso, através dela você pode ter isso’, e falar de uma forma que entendam que a Cultura não é só um grande palco que fica andando por aí. A Cultura tá no sarau, no passinho na praça, na biblioteca comunitária, numa leitura pública. Tudo isso é nossa responsabilidade.”
Mas a juventude, na percepção da secretária, está mais pronta para o momento do que talvez sua própria geração estivesse. “Eu acho que temos gente na juventude, inclusive periférica, que chegou no ponto que conhece o que é uma Secretaria, o que é um edital, que sabe quais são os equipamentos, e que minimamente detém um pensamento crítico para disputar esse acesso, o que pra mim é muito novo.” Helena gosta de manter presença nas redes sociais, nos canais de comunicação contemporâneos, para fazer parte das conversas tidas particularmente pelos jovens. “É não ter a arrogância de achar que você já sabe como vai produzir as coisas, e estar aberto para ouvir.”
Quando convidada a sonhar alto, com a totalidade da juventude da cidade tendo acesso pleno à cultura, Helena responde: “A coisa mais importante é a gente conseguir chegar na promoção de um pensamento crítico. Uma pessoa com o pensamento bem consolidado, e isso não depende só da cultura, depende de uma rede de políticas públicas agindo. Eu, quando descia o morro pra ir pra ONG, eu tinha comida lá, vale-transporte e promessa do meu primeiro emprego. Pra eu ter sucesso nisso, foram várias políticas públicas agindo. Mas eu acho que se a gente da cultura conseguir contribuir pra emancipação do pensamento, eu acho que é a base de tudo. Uma pessoa com o pensamento bem emancipado, sabendo dos seus direitos, ciente de que há outras possibilidades de construção, que o seu destino não está pré-determinado.”
A Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.
Serviço:
Bienal Internacional do Livro do Ceará
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br