Foto: Jeny Sousa
Foto: Jeny Sousa

Arena BECE traz encontro sobre os desafios e caminhos para a política pública de cultura

A XV Bienal Internacional do Livro do Ceará é um evento central para a programação cultural de nosso estado, uma união de diversas instâncias e instituições do poder público com entidades privadas entre financiadores, livreiros e mesmo prestadores de serviço. Todo o evento é construído ao redor do livro, do poder da literatura de cativar imaginações e construir cidadanias. Porém, a edição de 2024 da pesquisa Retratos da Leitura afirma que o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores em quatro anos, chegando pela primeira vez no histórico da pesquisa a ter uma proporção de não-leitores maior que a de leitores.

Tal paradigma foi um dos assuntos centrais da mesa de abertura do 3º Encontro “O livro e seus mercados”, promovido pela Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE) em seu espaço Arena BECE para discutir políticas públicas, marketing editorial e suas tendências, utilização das mídias sociais para difusão e os desafios da democratização do acesso à leitura. A mesa de abertura, com o tema “A Política Pública de Continuidade e seus desdobramentos como responsabilidade do Estado na formação de leitores”, contou com a participação de elenco estrelado e capacitado: Luisa Cela, Secretária da Cultura do Ceará, Helena Barbosa, Secretária de Cultura de Fortaleza, e Fabiano Piúba, Secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura.

Fabiano, veterano de longa data do MinC, destacou o desafio que é produzir política pública sem a garantia da continuidade do trabalho. “Existia [no fim dos anos 2000] uma proposição no plano anterior de estabelecer uma biblioteca por município brasileiro. Naquela época, nós fizemos um censo nacional em 2009, identificamos em torno de 1500 municípios sem bibliotecas, e conseguimos zerar o déficit em 2010. Em 2014 identificamos de novo municípios que fecharam bibliotecas, a gente de novo fechou esse déficit, e hoje, de 2017 para cá, em meio a uma pandemia e a um pandemônio, com a extinção do Ministério da Cultura, com o enfraquecimento institucional da área do Livro e Leitura, foram fechadas mais de 1500 bibliotecas municipais.”

Luisa apontou também o desafio que é para a política do livro o avanço das novas tecnologias digitais. “Não adianta a gente não achar que isso é um fator de centralidade na redução do número de leitores. É claro que tem muitas outras coisas, muitas outras camadas, mas é muito desafiadora a disputa com as telas. O meu filho mais velho, na escola participava de grupo de leitura, mas agora eu preciso negociar, uma hora de internet, um livro, porque a ambiência digital provocou uma mudança de dinâmica, de contato com a leitura, que precisa ser compreendida.”

Helena mencionou um terceiro aspecto: uma desconexão física entre as políticas públicas existentes e a população. “A leitura tem que chegar aonde o povo está. Incentivar a leitura onde o povo está. Então é muito importante que a gente tenha a biblioteca Dolor Barreira, que é um grande pólo da universidade, mas também é muito importante a gente ter as bibliotecas dentro das periferias. Eu tô falando do (bairro) Autran Nunes, do (bairro) Conjunto Ceará, e que a biblioteca do Autran Nunes tenha a voz, tenha o nome de uma intelectual que fez e produziu conhecimento na rua, como Cristina Poeta. Estamos falando da Herbênia Gurgel, que foi bibliotecária, que mesmo na ausência do investimento governamental, tirava do próprio bolso para manter a biblioteca. Então essas conexões é que criam essa relação de sentimento. Não é só um livro, uma prateleira, não é uma livraria que as pessoas não conseguem ter acesso. Tá lá na rua. E quando você traz esses símbolos, você vai conectando essa rede, que é extremamente importante para a vivacidade de qualquer política.”

São grandes os desafios encarados pela política de cultura. Mas quando tratam de possíveis caminhos para a melhora, os três secretários veem o mesmo caminho: uma maior integração entre a política de cultura e de educação. Fabiano mencionou a nova Política Nacional do Livro e Leitura, que está sendo traçada em conjunto pelos Ministérios da Educação e da Cultura e que colocará os objetivos dos dois campos andando mais lado a lado. Luisa apontou que a escola tem a capilaridade, a proximidade ao jovem, que os equipamentos de cultura ainda não têm, e que as metas podem ser atingidas (como as da educação têm sido no estado do Ceará) com capilaridade e financiamento. Helena reforçou a necessidade de promover interseccionalidade das políticas públicas de cultura e de educação, democratizar o acesso ao livro e à leitura por meio de atividades mediadoras, e de apoiar a formação de profissionais de escola e de biblioteca.

No encerramento do encontro, Fabiano exemplificou a importância da conexão entre cultura e educação. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), do qual o Brasil faz parte, mudará seu critério a partir de 2025. “Para além da leitura, da ciência e da matemática, tem um novo indicador, que é da criatividade e do pensamento crítico. E somos nós, pessoal. Somos nós que fazemos artes, e somos fazedores de cultura, que vamos melhorar o índice da educação básica do Brasil, para além do que a educação já faz. A educação alfabetiza para a vida. A cultura faz a gente ler o mundo.”

A Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.

Serviço:

Bienal Internacional do Livro do Ceará 
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br 

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